Era uma vez um tigre que vivia num habitat recheado de animais. Havia de tudo desde os mais pequenos insectos até aos maiores felinos. Havia regras a cumprir conforme cada espécie e todos conviviam baseados na lei do respeito mútuo e também, às vezes, pela lei do mais forte. As personalidades dos animais eram muito variadas, embora dentro da mesma espécie, todos se comportassem mais ou menos de igual forma.
Ora, nesse habitat, vivia uma cobra que era muito mesquinha. Estava farta de deslizar pela lama e invejava secretamente o tigre. Ele era respeitado por todos pelo seu tamanho e pela sua imponência. Sabia nadar, andar, correr e até trepar árvores, enquanto que ela não. Como não se podia comparar ao tigre e não se queria esforçar para ser respeitada pelas suas qualidades, decidiu lançar um boato para enxovalhar o tigre. Se convencesse toda a gente que ele era um rato, ele perderia a sua fama. Com um pouco mais de maledicência, talvez até ele próprio pudesse acreditar que era um rato e desaparecer daquele habitat para sempre. Sem ele por perto, teria muito mais influência sobre os animais mais fracos.
O boato começou a correr. Primeiro que o tigre era um grande rato. Depois, que era um rato sem riscas. De seguida, um rato minúsculo. Tudo servia para diminuir a condição do tigre dentro do seu habitat. Os animais mais sábios nem ligaram. Sabiam que não se devia dar ouvidos a um boato e a fazê-lo dever-se-ia sempre tentar descobrir primeiro se ele tinha fundamentos ou não. Outros mais ingénuos, ouviram, acreditaram, duvidaram e depois esqueceram. Os mais fracos fizeram do boato uma verdade e passaram a ver um rato na figura do tigre.
Quando o tigre descobriu o que andavam a falar dele, teve uma reacção de irritação profunda e teve vontade de ir ter com todos os que andavam a difamá-lo para se explicar. Depois, pensou melhor e decidiu ignorar. Ele era um tigre. Não é porque andavam a dizer dele que era um rato minúsculo sem riscas que ele se ia transformar num. Ele era um tigre, o maior felino existente na terra e assim continuaria a ser. Quanto aos animais que acreditavam que ele era um rato, sabia que tinham ficado com a memória e a percepção da realidade distorcida. Desde que não se metessem com mais nenhum tigre, em princípio, ainda viveriam uma longa vida. Quantos aos outros, seriam certamente apanhados de surpresa quando se apercebessem que o suposto rato tinha a força e a imponência de um tigre menos paciente do que ele, um tigre que os esmagaria pela lei do mais forte…
Jacky (05.03.2007)
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