Ela vivia de fragmentos guardados na memória, como se esta fosse uma manta de patchwork. Cada momento era um quadrado para recordar.
Do primeiro quadrado, ouviam-se os risos da sua infância, a descer pelo escorrega e a brincar sentada na frieza do chão. Do segundo, ouviam-se os murmúrios entre amigas, a atracção como íman por aquele rapaz dócil durante a adolescência. Do terceiro, sentia-se o calor de um beijo vindo de uma boca apaixonada. Do quarto, quase se tocava a preeminência da paixão que desabava no meio das suas coxas numa noite de Inverno. Do quinto, lia-se uma torrente de palavras, que esmagam quem as compreende, numa prosa só sua. Do sexto, via-se o gesto embebido em sangue, sinal de luta contra a doença.
Ela já só era traços de si mesma, presa à matéria do seu corpo, numa cama de hospital, onde vivia de fragmentos guardados na memória…
Jacky (25.02.2007)
em resposta ao desafio que o Tozé me fez.
E tu, não queres escrever algo com estas 20 palavras? Responde ao desafio para tozribeiro@gmail.com
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