Faz hoje 13 anos que me dirigi à Maternidade Júlio Dinis a pensar que o meu filhote ia nascer de cesariana. Tinha 38 semanas. A minha barriga estava quase a rebentar pois estava quase a exceder o máximo do líquido amniótico. Segundo as contas da médica, se nascesse com 40 semanas teria 4,600 kg e não podia ser… A Maternidade funcionava mal. A enfermeira esqueceu-se de mim e sem querer entrei em trabalho de parto. Muitas horas depois, nasceu de parto normal. Estava azul e não chorou. Disseram-me que estava tudo bem mas entrei em estado de choque devido à violência do parto sem anestesia e por me ter metido na cabeça que estava morto. Quando mo colocaram no colo, estava desligada de mim e dele. Parecia que aquele corpo não era meu e que aquele bebé era daquele corpo que eu desconhecia. Não consegui dormir toda a noite com as dores. De tarde, invadiram o quarto e que quase morria de cansaço. Só por volta das 19h, quase 20h depois de nascer, é que despertei com o seu cheiro de bebé: o meu bebé.
Durante estes 13 anos, adorei ser mãe. Adorei poder trabalhar em part-time (em detrimento da minha carreira) para poder ficar com ele o máximo de tempo possível, fazendo actividades giras como pintar quadros, brincarmos e também fazer os deveres com 2 colegas da escola que iam para nossa casa todas as tardes. Andei com o Mário muitas noites ao colo, dormi outras tantas na cama de baixo do quarto dele quando estava com otites ou viroses com pesadelos. Andei muito triste durante anos por só lhe ter dado a mama uma semana pois achava que todas as doenças dele eram culpa minha devido a isso. Decorei os 151 pokémons, aprendi as digivoluções dos digimons, joguei beyblades. Ia para o relvado junto ao nosso prédio e jogava a bola com os putos para ele se integrar no grupo. Não tive carro muito tempo e andava com ele ao colo nos autocarros e no comboio (agora metro) quilómetros. Guardava o pão seco para irmos ao Parque da Cidade dá-lo aos patos e aos cisnes. Tivemos um coelho anão, periquitos, canários, peixes, tartarugas, hamsters e um cão, pois o amor aos animais faz parte da minha família. Inscrevi-me numa turma de Karaté para poder ensinar-te os katas quando tinhas 6 anos. Dormi numa cadeira de hospital muitas noites quando foste operada ao apêndice. Joguei gamecube, corridas de carros no Mário Kart, apanhei moedas para ganhar vidas no Super Mário Sunshine. Vim a Lisboa para visitarmos o Oceanário e o Zoo. Concorri a um concurso da Concentra e ganhámos bilhetes para ver o Wrestling no Pavilhão Atlântico. Ouvi-o a dizer biiiiiiiiiiiiiiiiiiiicha milhentas vezes ( e os sons agudos irritam-me valentemente) durante a quinta dos famosos, e outros sons parvos que lhe apetecia guinchar. Alimentei tamagoshis, montei pistas de comboios e a quinta dos legos milhares de vezes. Tive de saber todos os nomes dos dinossauros e o que comiam e vi milhentas vezes o vale encantado e tive de cantar outro milhar a canção do dinossauro solitário. Levantei-me muitos dias às 7h30 da manhã para gravar os teletubbies, pokemons, digimons e sei lá que mais… Limpei vomitado (e Deus sabe o quanto me custa). Vi os morangos com açúcar e combates de wrestling. E muitas outras coisas mais.
A maior parte do tempo, sou a má da fita que obriga a levantar cedo para ir para a escola, que obriga a fazer os TPC e a estudar para os testes, que obriga a comer sopa e não compra coca-colas e doces para não engordar, que obriga a tomar banho e a cortar o cabelo. Sou a que dá os raspanetes e que grita quando fico sem paciência. Mas também sou a que ama incondicionalmente, mesmo quando faz asneiras, mesmo se responde torto, mesmo se me ignora, mesmo se acha que os amigos são melhores que eu. Andei com ele 38 semanas na minha barriga. Faz parte de mim e por isso duvido que haja alguém no mundo que o ame mais do que eu…
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